Se 2022 foi um ano de escolhas importantes (6 – Os Enamorados), este é o ano de dar ímpeto e direção a sua escolha.

O Carro é tradicionalmente uma carta de sucesso, que indica conquista de objetivos concretos, tais como dinheiro, bens, promoções no trabalho.

Ela mostra força de vontade, disciplina, determinação, ambição. Saber onde quer chegar e direcionar todos os seus esforços para atingir seus objetivos. Ter auto-controle e auto-confiança para percorrer caminhos difíceis e superar obstáculos.

Mas se o Carro é uma carta de tanto sucesso, porque está no começo da jornada do Louco pelos arcanos maiores?

Para responder, é importante observar o simbolismo da carta e a sua posição na jornada. 

Com relação ao simbolismo, as duas esfinges de cores opostas dão uma pista: Rachel Pollack lembrou que Platão, em sua obra Fédon, refere-se à mente como uma carruagem puxada por um cavalo branco e um cavalo preto. Um seria nobre e domado; outro, rebelde e selvagem, que o príncipe teria de conciliar. Esse dualismo sugere que o príncipe consegue controlar, mas (ainda) não INTEGRAR, as forças opostas da natureza, que estão em permanente tensão.

Com relação à posição na jornada, o Carro fecha a primeira das três linhas dos arcanos maiores (cartas 1 a 7), que Rachel Pollack associou ao nível consciente, que reflete as principais questões do mundo externo. Segundo ela, “um indivíduo pode viver, morrer e ser julgado como bem-sucedido por todos ao seu redor sem nunca ter ultrapassado o nível do Carro. De fato, muitas pessoas não alcançam esse nível.”

Portanto, esse sucesso é, de certa forma, um sucesso material, externo. Não é o sucesso pleno indicado pela carta do Mundo, cuja dançarina conseguiu de fato integrar os opostos e superar as ilusões do mundo, atingindo a plenitude.

A vitória do Carro é uma vitória do ego. Sallie Nichols diz que, nesta etapa da viagem, nosso herói se põe em movimento, mas não devemos culpá-lo se a viagem dele começa com uma “egotrip”.

O “sucesso” representado pelo Carro reflete a visão ocidental predominante sobre o tema, que o associa a dinheiro, bens ou prestígio social. No entanto, o verdadeiro sucesso advém de conhecermos a nossa essência e transcendermos as ilusões do mundo material.

Ou seja: em 2023, ponha-se em movimento, assuma o controle de sua vida e batalhe pelos seus objetivos – mas saiba que você está apenas no começo de uma jornada rumo a algo muito maior, com potencial de alcançar o Mundo. Não deixe que essa viagem se transforme em uma “egotrip” e não se contente apenas com o sucesso material, pois ele não é a linha de chegada.

Leia abaixo algumas reflexões sobre o sucesso:

“Nós pensamos que sucesso é o mesmo que felicidade, mas essa ideia é uma ilusão. A palavra em sânscrito para ilusão é māyā, que significa acreditar naquilo que não é. Quando deixamos realizações e aquisições determinarem o curso da nossa vida, vivemos na ilusão de que a felicidade vem de indicadores externos de sucesso, mas muitas vezes descobrimos que, quando finalmente conseguimos o que queremos, quando enfim encontramos o sucesso, ele não leva à felicidadeFelicidade e plenitude só são possíveis quando dominamos a mente e nos conectamos à nossa alma – não com o acúmulo de objetos ou realizações. Sucesso não garante felicidade, e felicidade não requer sucesso. Eles podem se alimentar mutuamente e nós podemos ter os dois ao mesmo tempo, mas não estão interligados.” ⁃ Jay Shetty em “Pense como um monge”

“O homem de sucesso é o que viveu bem, riu muitas vezes e amou bastante; que conquistou o respeito dos homens inteligentes e o amor das crianças; que preencheu uma função e cumpriu suas tarefas; que deixou este mundo melhor do que encontrou, ao contribuir com uma flor mais bonita, um poema perfeito ou uma alma resgatada; que jamais deixou de apreciar a beleza do mundo ou falhou em expressá-la; que buscou o melhor nos outros e deu o melhor de si.” – Robert Louis Stevenson 

“Felicidade é estar satisfeito com o que você tem. O sucesso vem da insatisfação. Escolha.” – Naval Ravikant 

“Gosto de uma frase de Blaise Pascal que basicamente diz: “Todos os problemas do homem surgem porque ele não consegue se sentar sozinho em um cômodo e ficar em silêncio”. Se você conseguir passar trinta minutos sentado e se sentir feliz, você é bem-sucedido. É uma posição muito poderosa, mas pouquíssimos de nós chegam lá.” – Naval Ravikant 

“O que é uma pessoa bem-sucedida para você?” A tradição judaica responde a essa pergunta na lata: quem é rico? Aquele que é feliz com o que tem. Quem é sábio? Quem aprende de todo mundo. Não é saber tudo. É aprender de todo mundo e de tudo. Essa pessoa é muito bem- sucedida. Aquele que conquista e se satisfaz, essa é a grande riqueza. O resto é luta, sempre.” – Trecho de entrevista de Nilton Bonder à revista Lola. Ideia semelhante foi desenvolvida em seu livro “O Sagrado”: “Quem é sábio? Aquele que aprende de todos. (…) Quem é poderoso? Aquele que contém o seu ímpeto. (…) Quem é rico? Aquele que se satisfaz com o que é e tem. Satisfazer-se com o que se tem não significa deixar de almejar e esforçar-se para ter o que precisa. Porém, uma vez que os resultados desse esforço se consolidam, devemos gozá-los como verdadeiras riquezas, não caindo na tentação de compará-las com outras riquezas como é usual no campo do poder.”

“A cidade deixa as pessoas multipartidas, divididas. Tanta interferência. Solicitações, telefonemas, convites, eventos, festas, amigos, trânsito, trabalho, horário, famílias, parentes, pessoas, informações, conversas, flores, telegramas, jornais, compromissos, vitrines, propostas, notícias.  Uma roda de acontecimentos nos atropela, interrompe, tira do centro. Em busca do quê? Uma fugaz ideia de sucesso, uma tolice coletiva. O sertão redimensiona o espaço e o tempo. Faz a gente conviver com a própria essência. A inteireza. O eixo. O foco. O exercício de ser uma pessoa. Uma pessoa.” – Bruna Lombardi em “Diário do Grande Sertão”

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