
📕 A história do tarô ainda está sendo escrita e pesquisadores seguem descobrindo novos baralhos e formulando novas teorias sobre o surgimento do tarô.
📕 O livro “Two Esoteric Tarots – a conversation between Peter Mark Adams e Christophe Ponce”, publicado em 2024, registra uma longa conversa entre os autores, mediada por César Pedreros. Os autores discutem sua teoria de que o Sola-Busca e o Tarô de Marselha foram criados com o objetivo de codificar ensinamentos esotéricos.
🃏 Peter Mark Adams estudou o tarô Sola-Busca e Christophe Ponce estudou o tarô de Marselha. Ele propôs a seguinte teoria: o tarô de Marselha teria sido criado entre 1470 e 1475 pelo filósofo florentino Marsilio Ficino, o grande humanista renascentista que traduziu, sob encomenda de Cosimo de Medici, as obras de Platão e o “Corpus Hermeticum”, que influenciaram profundamente o pensamento da época. O baralho teria sido criado não com fim lúdico, mas para registrar um conhecimento oculto, não referendado pelos dogmas católicos. Meu palpite é que muita informação sobre os primórdios do tarô ainda será descoberta nos arquivos do Vaticano, quase inacessíveis até hoje.
♦️Como se sabe, a explicação mais dominante nas últimas décadas era a de que, no início, o tarô era usado apenas para jogos de cartas nas cortes renascentistas italianas e só séculos depois passou a ser utilizado por círculos ocultistas e como instrumento divinatório. Os livros do renomado filósofo inglês Michael Dummett foram instrumentais para criar esse entendimento nas últimas décadas: “The Game of Tarot from Ferrara to Salt Lake City” (1980); “A Wicked Pack of Cards ” (1996, escrito com Ronald Decker e Thierry Depaulis) e “A History of the Occult Tarot, 1870-1970” (2002, escrito com Ronald Decker).
📕 No livro “Tarot of Marsilio”, de Christopher Ponce, recém-lançado, ele desenvolve essa teoria. Eu já encomendei o meu exemplar e, quando chegar, falarei sobre ele.
🍿 O documentário “Os mistérios do tarô de Marselha”, produzido por Ponce, apresenta essa ideia. No volume 3 do livro “Tarô de Marselha”, de Florian Parisse, há uma descrição detalhada do documentário.
➡️ Veja a seguir trechos do livro (traduzidos por mim – o livro ainda não está disponível em português):
Christophe – sobre a pesquisa de Dummett:
“Então, no final do século XX, quando três estudiosos, Ronald Decker, Thierry Depaulis e Michael Dummett escreveram um livro sobre as origens do tarô ocultista, eles simplesmente estabeleceram o ponto de partida de sua história no final do século XVIII. Para eles, o tarô ocultista ou esotérico só poderia ser uma invenção dos ocultistas franceses. Antes disso, eles afirmavam, desde suas origens, o tarô tinha sido apenas um jogo de cartas, sem outros significados ou usos de qualquer tipo. Como Gébelin havia proposto sua concepção do tarô esotérico sem nenhuma justificativa, os três estudiosos poderiam simplesmente rejeitar a crença em si sem nunca sentir a necessidade de refutá-la. Aos olhos deles, o tarô esotérico ou ocultista era uma mera fantasia dos ocultistas do século XVIII que desfrutou de sucesso mundial, e da qual todas as práticas “irracionais” associadas ao baralho foram derivadas: adivinhação, adivinhação, magia, “Tarotismo” e até mesmo, em suas palavras, variações da “Nova Era”. Depois disso, essa concepção se tornou uma espécie de paradigma intocável. Isso parece ter desencorajado quase todas as investigações sobre a possível existência de um uso “esotérico” do tarô antes de meados do século XVIII: o tarô esotérico nasceu em 1781 e floresceu a partir daí. Ponto final. Essa era a doxa. Peter e eu, e provavelmente outros, não podíamos aceitar esse postulado irracional, e é por isso que começamos nossas investigações.”
Christophe – sobre Court de Gébelin e sua afirmação de que o tarô tinha vindo do Egito:
“Portanto, parecia que os chamados ocultistas do século XVIII estavam certos em alguns pontos. De fato, certas intuições de Gébelin estavam corretas, e sua afirmação de que o Tarot de Marselha era o receptáculo de alguma sabedoria antiga, embora sem base, era inspirada. Ele tinha visto corretamente uma influência egípcia neles, embora a tivesse atribuído erroneamente diretamente aos próprios antigos egípcios.”
Christophe – sobre o uso do tarô para transmitir Ideias para além dos dogmas religiosos:
“Nesse contexto intelectual fértil, alguém, pode ter sido Ficino ou um membro de sua Academia, descobriu que imagens podem transmitir Ideias. O jogo de tarô era popular naquela época, então eles imaginaram usar sua estrutura e figuras para incorporar imagens e conceitos filosóficos. Não é o trabalho de um único homem.”
Christophe – sobre a crítica que o livro do Dummett recebeu, em 1980:
“Peter já mencionou que quando “The Game of Tarot” de Dummett foi publicado em 1980, a grande estudiosa renascentista Frances Yates escreveu uma resenha para a New York Review of Books. Gostaria de insistir nessa controvérsia. Yates foi a grande especialista em magia renascentista; seus livros sobre a tradição hermética e sobre a arte da memória se tornaram clássicos da história das ideias. Suas críticas foram duras. Ela escreveu que Dummett deveria ter passado mais tempo procurando as ideias embutidas nas cartas do que “perseguindo jogos de cartas obscuros”.”
Christophe – sobre a origem do tarô de Marselha e do Sola-Busca:
“Minha pesquisa mostra que o Tarot de Marselha foi criado entre 1470 e 1475. O Sola-Busca foi provavelmente criado cerca de dez anos depois em reação ao baralho de Ficino, propondo de forma semelhante uma ideologia oposta.”
Christophe – sobre o tarô:
“A ideia de que as cartas incorporam uma sabedoria profunda está se tornando cada vez mais aceita.”
Peter – sobre o tarô esotérico e os preconceitos decorrentes desse uso:
“A negação do performativo, e mais especificamente, do ritual mágico e teúrgico, teve um papel significativo em enquadrar a identidade eurocêntrica colonizadora como ‘superior’ por séculos. As sombras lançadas por esses preconceitos profundamente arraigados sem dúvida continuam a influenciar a cultura intelectual hoje, sobretudo no contexto da história da arte e seu subcampo, o estudo histórico-artístico das imagens do tarô. Daí a negação contínua de um papel performativo, isto é, ‘oculto’ do tarô.”

Adoro seus comentários. Muito aprendizado. Obrigada
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